sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Boca

Quero uma boca,
Boca que me fale, que me conte incansavelmente
Boca que me beije a exaustão
E morda, quando assim sentir necessário

Boca que me canse de poemas
De besteiras a toas,
Boca que me julgue aos seus gostos
E de desejo aperte os lábios

Que contra monotonia e o tédio,
Me afogue em saliva, sufoque em silêncio
Em todas as horas que as palavras sobram.


Felipe Argiles Silveira

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A roda gigante

Vejo que tudo anda
O relógio, a roda, a saia, o mundo todo...
As ondas caminham para praia, a terra gira tudo e todos
Todos caminham, alguns correm, outros apenas dançam...
Mas tudo gira, tudo passa, tudo anda
Os carros passam, as pessoas na rua e as estrelas...

Parece tão estranho,
Olhar pela janela é tão complicado,

Todos andam, cegos andantes
Meros andantes cegos, andam e andam
Para onde? Porque?
Tento pensar de outro modo...
Girar pra outro lado,
Doe e cansa

Bom é fechar os olhos e não ver passar...
Silenciar e fechar os olhos.


Felipe Argiles Silveira

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Depende da madrugada

Tudo é relativo, ou nada
Ou quase tudo, ou quase nada
As coisas, os fatos, os atos
Depende da madrugada

Distâncias largas,
Algumas dúvidas,
Curtas e retas, simplificadas,
Partida ou chegada

Variáveis tantas,
Distorcidas, camufladas
Respostas momentâneas,

Vozes, silenciadas
Loucura ou razão,
Dependem da madrugada


Felipe Argiles Silveira

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Palavras soltas

As vezes eu anoto palavras soltas em folhas de papel. Depois, as leio e tento decifrar... Como é difícil saber o que passava pela nossa cabeça naquele momento. Todas as linhas de pensamento se desalinham e as palavras soltas, acabam por não dizer nada. Palavras soltas enchem páginas de idéias, de sensações que ate passam despercebidas por nossas mentes pré-ocupadas com milhões de problemas insuportavelmente importantes e ao mesmo tempo tão inúteis.
Pensar e pensar... Pra quem eram aquelas palavras? E o que eram? Seria uma música que eu gostei? Algum trabalho que eu tinha que fazer? Algo que eu precisava entregar? Uma poesia? Quem sabe palavras que guardei pra alguém... Acho que nunca vou descobrir...
Pensar e pensar... Não deveria ser muito importante, afinal são apenas letrinhas! Melhor esquecer esse papel, pode ser algo que eu não queira lembrar... Uma briga, uma saudades, uma desilusão... Na verdade são apenas palavras, o que realmente importa era o contexto, o mundo em volta, quando elas acabaram caindo no bilhetinho.
E essa desorganização e todo seu lado criativo? Quantas possibilidades abertas, idéias malucas, viagens e pensamentos apenas por falta de “ordem”. Como acabamos, inconscientemente, nos auto limitando... Perdendo oportunidades de navegar sem rumos por ai...
Ultimamente venho dando mais importância as palavras soltas... Palavras são como pessoas, por trás delas há uma infinidade de significados a serem descobertos, de mistérios a serem revelados, de sentimentos... Acho que “palavras soltas” e pessoas têm muito haver, sempre na busca incansável pelos seus sentidos.


Felipe Argiles Silveira

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A tela

Olho para tela e ela não diz nada,
Não ousa e nem se atreve
Ela não respira, não grita nem sussurra palavras,
Não me toca,
Não me chama,
Não me culpa,
Não me acusa,
Não me lembra,
Não me emociona,
Não me beija,
Não me mente,
Não me sente,
Não se perde,
Não se apaixona,
Não se assusta,
Não tem dor de cabeça,
Não tem pressa,
Não tem planos,
Não tem dúvidas,
Não fica só,
Não fica doente,
Não fica com fome,
Não fica sem dinheiro,
Não morre,
Não cansa,
Não erra,
Não dorme,
Não sonha,
Não chora,
Não reclama,
Não escuta,
Não ama,
Não tem saudades...
Onde será que me escrevo para virar uma tela?
Agora imagina a tristeza de poder ser desligado por qualquer um...


Felipe Argiles Silveira

sábado, 28 de junho de 2008

Poetar

Brincar de poetar é criar o mar nas palavras
Molhar-se aos sons dos fonemas
Boiando a deriva, ao rumo torto de um horizonte incerto
Em ondas e versos, em bocas, das loucas e improváveis
A poetar e poetar...
Poucas margens, para imensidão de um começo sem fim.


Felipe Argiles Silveira

terça-feira, 10 de junho de 2008

E a hora dobra...

Quando o céu gira, escondendo o sol
Os olhos fecham, escondendo-se dos medos
Os medos, escondem-se das palavras
As palavras, escondem-se dos lábios
E a hora dobra...
Os sábios, escondem-se do silêncio
Os loucos, escondem-se da euforia
Pássaros, escondem-se nos quintais
O vento sopra a calmaria
E a hora dobra...
A escuridão toma os sentidos
Esconde a solidão,
E a solidão esconde...
Esconde desejos, medos, silêncio,
Esconde as palavras dos lábios,
Esconde o sol quando a hora dobra.


Felipe Argiles Silveira

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Nostalgia

Tenho medo de tudo que não entendo,
A lógica que não conheço me da medo
De avião eu tenho medo
Assim como do fundo do mar,
Tenho medo de fantasma
E de montanha russa,
Das distâncias intransponíveis...
Pula de pára-quedas me da medo,
Tenho medo de machucar o joelho
Tenho medo do espelho que insiste ser amigo das horas,
De perder oportunidades
De perder sorrisos,
A solidão me da medo,
Tenho medo da mesmice
Das palavras que não vem
E das cabeças fechadas ...
Porta trancada me da medo,
Tenho medo do domingo
Pelo que não entendo,
Tenho medo de me perder
E não mais me encontrar nos teus lábios...
Medo de cachorro brabo,
De quebrar o dedo,
De estar sozinho,
De chuva forte,
Da noite...

“Tenho medo de não ter mais medos”

O peso,
O fardo,
O largo,
O tardo do vento e do rio
Todos carregam a sua maneira
À hipnose da nostalgia,
Assim como o medo, do tempo e da solidão...


Felipe Argiles Silveira

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Amor cego e palpável

Recebo toda informação como dúvida, comparo e questiono, do voltas em mim procurando relação. Desperto embriagado, sem unidades, sem forma ou mensuração. Acelero meu passo e não tropeço nos instintos, nem na vontade, na falsa certeza do óbvio. Reflito e nego, incrédulo de verdades, pés no chão.

Ai desacelero, duvido da mentira, assimilo um mar de relação.
Limito e concentro excêntrico devaneio, se da luz as sombras, acerto o meio, desconsidero variáveis, limpo e afirmo conclusão.

Assim duvido do próximo instante com todas as forças que tenho. Julgo ao enjôo, todas as verdades com minhas dúvidas. Não vejo os porquês, vagos, ralos, nulos, indeterminados, assim como a própria existência.


Felipe Argiles Silveira

quinta-feira, 20 de março de 2008

Múltipla

Em uma, torna-se pouca
Em pouco torna-se tantas
De várias se faz,
De Rosas, Marias e Yaras
Nos cantos é silencio,
Das palavras poesia,
Dos poetas é voz

E no vai e vem das formas
No mal e bem das horas
Em todos seus cheiros, gostos e rostos,
Para tantos, todos outros seus,
Dar fim ao peso das horas que somam,
Seus olhos de uma
Seus beijos de outra,
Contra o tédio, e o fardo do tempo,
É dose forte e única.


Felipe Argiles Silveira

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Um olhar

O que será que ela esconde atrás dos olhos?
Uma palavra, um beijo ou mar de incertezas
Dúvidas iguais as minhas, que ao olhar dispersa
E a nuvem vaga, sombra da luz, dele confessa

Nem as luas dormem esperando no infinito
O sono não vem, aos que hipnotizados admiram
O mundo se faz calmo, inquieto pela espera
E a cidade desperta ao tempo dela

Que tantos mistérios se escondem atrás do lápis?
Que borra e colori, observador poeta
Alaga meu deserto, curto e reto como de todos os outros

Primavera se faz em meus sentidos, murchos pelo outono
Sem perceber, distraído e estático, em um oásis me encontro
Sonho e calo, pois palavras não declaram todo meu encanto.


Felipe Argiles Silveira

sábado, 9 de fevereiro de 2008

A Guerra

Luzes e sombras na mesma sala
Dançam as mesmas músicas
Perdidas em dois mundos próximos
Separados por freqüências distintas
Dançam para si
Sem ambições maiores,
Invadem...
O contado da luz cria sombra
A sombra expulsa a luz,
Guerras constantes
Roubos de cheiros, desejos e beijos
Universo infinito de sensações
Estrelas aos brilhos,
O vazio aos prantos,
Nos cantos da sala vazia
Surgem os guerreiros,
Secos de alma
Porem vitoriosos pela embriaguez
Contrastam entre luz e sombras
Abandonados pela lucidez
Vivem penas do presente.


Felipe Argiles Silveira

domingo, 13 de janeiro de 2008

O vento forte

O vento sopra tão forte
Sopra sempre,
Carrega os que estão soltos
Os que estão mortos
Carrega sempre,
O vento forte
Carrega pra outros sentidos,
Do norte pro sul,
Do sul pro norte,
Arrasta as pedras,
As folhas,
Ate o papel em branco

Leva o vento
Sentidos confusos
Embaralha sentimentos,
Com o vento forte
O rio desvia,
Ele vem e derruba casas,
Provoca ondas e depois calmarias,
Descabela os sonhos dela
E assim os meus...
Vento que desfaz,
Provoca desordem
E assim surge a criação.


Felipe Argiles Silveira

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O sábio, o tempo e a luz

Era paz e encontro
Parte inexistia do visto concreto
A dúvida, em um dos três balançava
Outro sem perguntas dançava,
O tempo as respondera
A outra era consolo e paixão,
O conforto do mistério a embriagava
E sem ver parte do plano real,
Sonhava com dimensões perdidas,
Pelos anos de jornada
O sábio controlava os ritmos
Pausando tortos instintos
Fazendo sua música clara e bela
A vivência o observa
Sempre tão cautelosa
Porém perdida nas curvas,
Na dúvida
Assim dançavam os três corpos
Os outros, apenas intrusos,
Observavam cegos,
Cotidianos distantes,
As estrelas param
E os três, amantes se declaram
O sábio, o tempo e a luz


Felipe Argiles Silveira