sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Solitário segredo

O grande segredo das palavras é dizê-las sem dizer
Sentir sem tocar é o que sinto sem ter,
Cais e caos quando chego, quando vejo
Desfaz o tempo ao fazer o beijo

O grande segredo dos outros é o que pensa você
Desalinho de desejo o destino sem querer,
O pó e o silêncio é o som que sobra da gente
E uma leveza bela de uma beleza descontente

O grande segredo do dia é a noite quem prevê
Abismo no tempo onde o certo é o não saber
Amanheço em palavras, entardeço no chão
Relaciono e retrato o relato da sensação



Felipe Argiles Silveira

domingo, 18 de outubro de 2009

A dois

Alguns acham que o amor pode ser um pouco tedioso e monótono
Garanto a todos, que engano absurdo
Como podem não divertirem-se com a mistura dos sentidos?
Secando a boca cega, cegando os olhos surdos
Tão grande e pequeno sentir-se
Sonhando a vida aos poucos, vivendo em sonho profundo
Pra que mais, se tudo na vida se completa?
Falo para os que não sentem graça em um só amor
A solidão a dois é a melhor das brincadeiras
Como podem não divertirem-se?
Tendo um mundo inteiro, longe de todo mundo.


Felipe Argiles Silveira

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O tempo do tempo

O que me deixa assustado não são as bombas, as guerras, as mortes
Também não me assusta o ódio, os gritos, os berros
Não tenho medo dos homens, não tenho medo dos mortos
Não me assustam os temporais, os ventos e os erros

O que me faz pensar não são os descobridores do novo
O que me deixa perplexo não são os gênios nem os tolos
Não me apavoram as ações nem os atos pensados
Não me intrigam os faróis, nem os barcos e o espaço

O que me deixa encucado são verões, os verões passados
Os sorrisos perdidos e os beijos não roubados
O que me deixa cansado são os medos esquecidos

O que me deixa caduco são os outonos, os outonos passados
E as lembranças, as histórias, os amores, e se forem todos esquecidos?
O que me deixa assustado são os sonhos que deixamos de lado.


Felipe Argiles Silveira

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Além dos olhos

Tem coisas quem precisam ser sentidas,
Não podem ser explicadas nem ditas
Existem razões, simples e apenas razões
Para óbvio, o previsível,
Não ser assim discutido
Não ser assim tão simples

E existem tantas razões...
Para o sempre,
Razões para o simples, lógico continuar
E tão certo e monótono seguir do tempo
E tão raso e cego caminhar
Existem as horas, somente horas...

E o tempo passa pelos caminhos estreitos
Pelos lagos, pelas ruas, pelos exatos imperfeitos
Pelas luas...
Em um infinito, eterno silenciar


Felipe Argiles Silveira

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Bicho homem

Esperto foi o bicho homem,
Que ao construir destruiu
Agora corre constantemente atrás de soluções para sanar sua própria ignorância.

Felipe Argiles Silveira

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Caixinha

Se pudesse guardava em uma caixinha
Um pouco de sorriso, uma história qualquer
Pra ficar ali do lado...
Colocaria um instante desses que passa despercebido
Uma tarde de chuva e um beijo roubado
Esconderia em um canto, meus medos
Meus sonhos e uma doce ilusão de um incerto futuro perfeito
Guardaria o gosto, o cheiro, e pras manhas mais mornas uma bobagem só nossa
Caberia o nervoso da voz, a ânsia das mãos e a leve brisa do embriagar da distração
Se eu pudesse construir essa caixinha...
Guardaria no mais silencioso segredo
E calaria a mais silenciosa saudade.


Felipe Argiles Silveira

sábado, 16 de maio de 2009

O errar exato

As vezes penso que posso ser um engenheiro frustrado. Que toda essa lógica e exatidão de nada nos serve. Essa pequena parcela de mundo onde um mais um é dois, as vezes nos cansa pois a solução está sempre atrás da primeira pedra a ser erguida. “Deixe o sentimento de lado, não podemos construir com o sentimento” já dizia um professor meu. Apenas o exato é valido, assim fizemos as nossas previsões, esse prédio será construído dessa maneira, essa máquina trabalhará tantas horas por dia, esses fios terão tais diâmetro, e vamos vivendo de um perfeito monótono.
Quem me dera trabalhar como um poeta e me esconder da lógica atrás de alguma palavra qualquer. Quem me dera erra na conta dos sonhos “desequacionando” a criação e simplesmente rir com a embriagues do acordar perdido. Me perder em contas, errar todos os sinais, esquecer antigas fórmulas que só ajudam aqueles que não tem a capacidade da dedução. E como é fascinante o descobrir...
Queria um dia ser um desses que anda pela vida sem exatidão, que se engana, erra e se engana de novo e erra novamente. Queria perder a capacidade de longas previsões, olhar o segundo seguinte e sorrir aos olhos do novo ou chorar se assim fosse de meu querer. Queria ser como uma criança que inventa suas brincadeiras, independente do sol, da lua, da chuva e da solidão. Quero olhar todos os mundos possíveis e tirar de cada um o meu entender.
Na equação da vida somos apenas somas de experiências. Reciclamos aquilo que não é válido e subtraímos as partes ruins. Somos então uma soma (certa ou errada, tanto faz) de tudo, de todos e de tantos. Tantos estes que por ai estão, no equacionar dos dias, com precisão ou sentimentos, em uma caixa chamada tempo.
Não consigo esquecer os sentimentos, como sugere meu mestre, talvez tenha um pouco de poeta essa alma de engenheiro, quem sabe essa alma de poeta tenha um pouco de engenheiro só o somar das horas vai nos contar esse segredo. O que não consigo é levar as coisas ao pé da letra, calculo com a exatidão das regras porem penso com a amplidão dos sentimentos. Posso ser apenas mais um desses apaixonados que acredita que só o sentimento tem a capacidade do criar.


Felipe Argiles Silveira

terça-feira, 21 de abril de 2009

Ao fechar dos olhos

Imagine
Imagine tanto que adormeça
Esqueça todos e quaisquer pedaços de mundo
Pedaços que mesmo sendo apenas lembranças doem
E doem tanto quanto o sempre
Afogue suas angústias em sono leve na plenitude do simples imaginar
Perca atrás de um castelo, de baixo de uma floresta seus medos pobres
Despreocupe-se

E dentro do calar consentido
Se Transforma todo silêncio em música
E mesmo os ventos, os pássaros,
A terra, as marés, o eterno andar das rotinas
Por um instante, apenas por um instante assistirá
E assistirá calado, estanco e eufórico
A música que se espalhará com o simples imaginar
E o mundo dentro dele irá gritar aliviado em nossos ouvidos
Apenas nos nossos e assim em todos e para todos


Felipe Argiles Silveira

domingo, 29 de março de 2009

Em um compasso qualquer

É pra esses momentos onde nada parece ter sentido
Não se encaixam os minutos em caminhos escuros
Pra todas essas horas indecifráveis
Sem objetivos claros na paisagem
É pra durante essas festas longas e perfeitas
Com amigos e bebidas, músicas e desejos
Onde nada mais falta, nada acrescenta

Parece impossível chegar ao intocado
Onde ninguém mais chegou
Chega a ser engraçado,
Não explico, porque sou um dos que não entendo
Dos que não suspeito, dos não questiona o indiscutível
Para todos aqueles que não sabem o que o amor
Duvide e duvide antes de conhecer.


Felipe Argiles Silveira

sábado, 21 de março de 2009

Solitário sentido

Desejo a todos
Um pouco de paisagem morta
Poesia torta, no reclamar dos ventos
No vai e vem dos tempos o decifrar absurdo

Desejo a todos
Um pouco de mundo
De fundo cansado, de olhos virados
Gozo e desejo, dos gritos mais surdos

Silêncio pros cegos,
Meros instantes em passear vagabundo
Deserto infinito de outonos passados

Paisagens pros mudos,
Inconstância, sentido indecifrado
Seca em silêncio no retorno de tudo

Felipe Argiles Silveira

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O eterno reciclar

Não leve a vida tão seriamente
É necessário um pouco de “graça”
Como essência de nossas histórias
Tudo não passa de uma grande brincadeira
Brincadeira de roda, esconde-esconde...
A vida é uma história que se conta ao cair da tarde
É fundamental, básico e indispensável a “graça”
Arrancar sorrisos, despertar curiosidades,
Camuflar desejos entre linhas...
É tudo uma grande brincadeira

Falo então, para aqueles que levam tudo tão a sério
Que trocam alegrias presentes por planos distantes,
As realizações futuras dependem do bem estar momentâneo,
Digo pra todos os senhores da verdade
Para os sanos perfeccionistas
A beleza do erro esta na graça da descoberta,
Berro para todos os exatos
De caras amarradas e ares supremos
A graça esta na simplicidade das coisas
E tudo, um dia, vira história,
O tempo vem e transforma lembranças em contos
Sorrisos passados em novos sonhos
E a vida recicla.


Felipe Argiles Silveira

domingo, 4 de janeiro de 2009

Ano novo

Ano novo é sinônimo de conclusão,
Mesmo não sendo o fim de nada
É passagem pra novas descobertas,
Novos pensamentos, planos inimagináveis
Loucuras impensáveis, um cafezinho no balcão e uma saudade antiga.

São novos motivos a serem apoiados,
Trocas e afirmações que rodopiam em uma caixa chamada tempo
Um novo ano não foi feito pra deixar arrependimentos,
Desejos irrealizados, pessoas para trás
Ano novo é motivo de curiosidades novas,
Cheiros novos, bocas, peles e uma calça velha.

Ano novo é a simples continuação do tempo,
Tempo velho, tempo antigo, tempo novo
O tempo que puxa todos aos chãos
Não é causa de medo nem desespero,
Mudanças radicais nas agendas de páginas amareladas
Ou atenção redobrada nos passos seguintes

Ano novo é um dia comum...
Um desses dias que vieram antes de ontem, depois de amanha,
É dia novo, mundo novo, coisas novas,
Saudades, conversas passadas, carinho em silêncio, olhar tranqüilo,
São dias com sol e chuva, frio e calor, fantasias e realidades...
E como todos os outros dias, tornam-se sinônimos de conclusão,
Mesmo não sendo o fim de coisa alguma.


Felipe Argiles Silveira