segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Amor

Te tenho tão tranqüilo que adormeço em mim
Mantenho quieto,
Espero o vai e vem das ondas
Desperto no parar das horas
Quero agora ser sempre eu,
Encontro lógicas tão estúpidas quanto belas,
Perco a noção quando encontro razão,

Pra não enlouquecer,
Enveneno-me
Acredito em novas idéias
Juro amores vãos
Deliro por dias
Agonizo em palavras
Gritos na imensidão
Pra não enlouquecer,
Crio verdades
E nelas me perco

E quando sóbrio desperto,
Sem medos ou desejo qualquer
Não encontro o lugar onde estava
Nem te procuro, no delírio da sobriedade
Sem ao menos saber de mim,
Sei-te lá


Felipe Argiles Silveira

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ao passo do tempo

Faço-me de passado
Faço-me do agora
Crio-me do instante
E no instante concluo...
Aproveito,
Desfruto,
Danço no tempo,
Observo autores
Observo a vida
Poetas,
Desfaço mitos
Absorvo gritos
Destruo pudores...
E quando me sinto só
Remoo acervos
Encontro destinos
Prevejo caminhos
Desmistifico,
Descubro,
Desalinho
E no passar das luas
Concluo...
Destruo,
Anterior resolução
Luas anteriores
Amores anteriores
Caminhos anteriores
Vidas anteriores
Percebo...
O fim não tem fim
Cabeças afins não têm não
E ao passo das luas
Criam-se novos amores
Alguns descobrirás
Outros passaram


Felipe Argiles Silveira

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Queria ser um gigante

Um dia quis ser um gigante
Forte, alto, tão grande quanto era
Não precisava voar para enxergar longe
E as distâncias encurtavam-se aos passos
A cabeça por cima das nuvens,
Os pés altos demais...
Tropecei em montanhas,
Pedras pequenas,
Buracos...
Acabei tropeçando em mim,
Um dia quis ser adulto
Era livre e tão sábio
Entendia as coisas e os seres
Compreendia o mundo como um todo
A cabeça afogada em problemas
Os pés cansados da correria...
Tropecei nos cadarços,
Na pressa,
Em pessoas...
Acabei tropeçando em mim,
Um dia quis ser uma formiga
Ágil, trabalhadora, tão pequena quanto era
Passaria embaixo das portas e por cima de tudo
Escalaria paredes e barreiras enormes
Na cabeça tudo tão longe
Os pés colados ao chão...
Tropecei nos desejos,
Nos amores,
Solidão...
Acabei tropeçando em mim,
Um dia quis ser criança
Pensei...
Pensei...
Pensei...
Criei poesia.


Felipe Argiles Silveira

domingo, 14 de outubro de 2007

O Poeta

Poeta é quem da voz às coisas
Quem escuta os ventos, os rios,
Assovia com os pássaros,
Nas sombras e pedras do caminho.
Poeta é aquele que enxerga o invisível aos olhos,
Transforma os sentidos em cores
Traduz o impensável em letras e flores
É viajante eterno
Sem rumo,
Sem porto,
Sem leito,
E no vão das horas é sonho...
Há quem diga que é louco
Desnorteado pela música que ouve
Música das coisas, dos ventos, dos pássaros
Poeta é quem escuta o que não é pronunciado
Sente o que não é transmitido,
Escondendo-se atrás de um sorriso,
E em momentos certos se perde no caminho
É poeta quem com a embriaguês do tempo,
Esse que carrega tudo e a todos,
Consegue parar as horas e respirar tranqüilo
Traduz em palavras sem sentido tudo o que mais lhe pesa e acalma,
Poeta é aquele que sonha enquanto todos os outros apenas dormem...


Felipe Argiles Silveira

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Plano de fundo

Somos as vezes só plano de fundo, as reações acontecem diariamente e instantaneamente para todos. Nos habituamos a ver a vida com nossos olhos e seguir apenas o que vemos, apesar de saber (egoístas) que todos fazem a mesma coisa. Esse ritual irracional tão planejado da origem a múltiplas reações.
As interpretações do espaço e tempo são analisadas de maneira diferente por cada um de nos, já que os pré-requisitos que usamos para reflexão são baseados em experiências diferentes.
O lugar onde todos fazem parte do nosso plano de fundo é o mesmo em que nos tornamos o plano de fundo. Todas nossas infindáveis observações entram em choque com outras tão absurdas e loucas que nossos sentidos não seriam capazes de organizar e digerir.
Essas informações invisíveis voam desordenadas sobre nossas cabeças, que de tão ocupadas e distraídas não percebe esse imenso universo distante dos olhos. Os outros sentidos estão ocupados com o bater das horas e compassos marcados pelo ritmo imutável.
Assim esse plano tridimensional engasgado de informações criadas por nossas experiências, se torna misterioso e apavorante. Quem consegue imaginar o plano de fundo sem um fundo qualquer voa sobre ele, porem não absorve as experiências dadas pelos choques que se fazem tão necessárias para o crescimento.


Felipe Argiles Silveira

domingo, 7 de outubro de 2007

O bom é brincar

O bom é brincar
E se perder na brincadeira
Encontrar suas viagens,
E se perder de novo.
Brincar de ser rei
Sair do castelo
E rir das flores, dos cheiros
Rir do medo, do desejo
E rir de si mesmo,
Ser ridículo
Que aos olhos alheios absurdo seja,
Meus atos, meus gritos, meus lados
Brincar de ser eu mesmo
De ser todos que quiser,
E no fim da brincadeira,
Os lugares, os cantos as danças que dancei
A lua, o sol, a floresta, os mares, os amores
Todos os quais toquei
Sejam diferentes a cada segundo
E comecem de novo a brincadeira


Felipe Argiles Silveira